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6 de setembro de 2011

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Homem de 85 anos é suspeito de oferecer ‘cura’ em troca de sexo

Ministério Público investiga se Aldo Bertoni se aproveitava das fiéis.


 Um homem de 85 anos é suspeito de abusar de mulheres usando uma seita que ele criou para adorar a si mesmo. Aldo Bertoni tem os passos acompanhados de perto pelo Ministério Público há dois anos, quando a primeira vítima tomou coragem e procurou os promotores. Depois dela, dezenas de vítimas fizeram o mesmo.

A equipe da Record acompanhou o homem. Os encontros foram acompanhados pela reportagem, que ouviu as vítimas e as autoridades. O prédio fica no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo. Lá funciona a matriz da seita chamada de apostólica, que reúne outros duzentos templos pelo Brasil e 25 mil seguidores.

Aldo construiu uma pequena fortaleza, vigiada 24 horas. Ele não conduz as cerimônias e aparece apenas para ser venerado. É a adoração de quem crê estar diante de um profeta, um vidente, uma divindade. As músicas cantadas no encontro servem para exaltar o próprio Aldo.

E é justamente essa devoção que ajuda a entender o que aconteceu a algumas mulheres ouvidas pela reportagem. Uma delas, que preferiu não se identificar, disse que foi falar com ele, para “pedir a oração, pedir ajuda pra ele, pra pedir pelo meu marido, aí ele falou que 'não"”.

- Falou assim pra mim: "não, deixa ele morrer que aí pelo menos você fica pra mim".

Com Claudete, o drama foi outro. Desesperada com a doença grave da filha pequena, procurou Aldo Bertoni em 2008.

- Eu queria falar com ele pra pedir oração, acreditava que ele podia interceder por nós.

Ela diz que entrou em uma sala pequena usada só para as reuniões particulares. Aldo, então, trancou a porta.

- Ele pegou e falou “e essa dorzinha que você sente aqui?” E já veio e colocou a mão no meu seio. Aí eu peguei e falei pra ele, “mas eu não sinto dor nenhuma no meu peito”, e aí ele falou: sente sim e foi aí que ele começou a me abraçar, me beijar pescoço, na boca, desceu a mão e começou a passar em mim. E ele falava assim “olha nos meus olhos, olha para os meus olhos. E aí fui ficando muito nervosa e não conseguia sair dele.

Ela disse ainda que Bertoni ameaçou até matar o marido dela.

- Ele fez a proposta para eu largar do meu marido, que ele ia me dar tudo. [Que eu] abandonasse tudo, que ele ia cuidar de mim.

Assustada, ela fugiu para nunca mais voltar.

- Eu dediquei 35 anos da minha vida a ele; precisava de ajuda espiritual, oração. Poxa vamos te ajudar... Ele quis abusar de mim, sabe...

Justiça - A promotora do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público) Sandra Rodrigues de Oliveira afirmou que muitas mulheres passaram “anos, anos se consumindo porque tinham tido uma relação sexual. Acreditavam que ele era um santo, mas algo ali, no inconsciente, ficava trabalhando, e muitos anos depois algumas conseguiram revelar para algum familiar".

Uma outra vítima, que não quis se identificar porque o marido ainda não sabe dos detalhes do que aconteceu entre ela e Bertoni, afirmou que ele revelou sua intenção de ter uma relação com ela.

- Que eu estava com um problema no útero, que eu estava com câncer, que eu tinha uma doença e que ele precisava fazer isso, que eu ia ser curada.

Ela disse que acreditou estar mesmo doente e por isso os encontros continuaram. Em um deles, ele quis fazer sexo oral. Ela repete o que ele teria dito.

- Se você tem problema, eu vou ter que fazer isso com você. Que eu vou soltar algo que vai te curar.

O abuso foi tanto que ela desconfiou, fez um exame e não encontrou nada. Ela abandonou a seita, mas até hoje é perseguida pelas lembranças perturbadoras.

Aproximação - Para se aproximar de Aldo Bertoni, os produtores da Record precisaram se vestir e se comportar como os fiéis. As regras criadas por Bertoni dizem que as roupas precisam ser conservadoras. Ele reforça que é proibido usar maquiagem, como batom, ruge, pinturas nos olhos e esmalte colorido nas unhas, e dá o comprimento exato das saias: dois dedos abaixo do meio da barriga das pernas.

Claudete chora ao lembrar que seguia as regras e se dedicava à seita desde criança. Ela casou lá e viajava de Porto Alegre, onde vive, até São Paulo para pedir conselhos, até que em um dos encontros...

- Ele me beijou, beijou bastante, aí mandou eu sentar e começou a abaixar, a passar a mão nas minhas pernas. Aí depois me abraçou de novo e tirou a minha calcinha e mandou eu sentar no banco. E ele ficou de frente. Bem de frente pra mim.

Ela conta que “aí ele abaixou a roupa dele”.

- Aí, quando ele abaixou toda a roupa dele, eu vi que não tava certo, eu vi que aquilo não era normal, aí eu levantei.
Bertoni alegava que, ao tirar a calcinha dela e ficar nu para as carícias, ele purificava os pecados da jovem.

- Daí logo eu sai, daí vim pra casa e daí ali terminou o meu mundo.

Chorando, ela diz que “estava perdendo a fé em Deus... Eu não confiava mais em Deus”.

- Um trauma muito forte, muito grande. A gente não consegue esquecer.

Claudete reconstruiu sua vida, mas há quem não acredite nas denúncias. Ela diz que quem acusa o líder é considerado louco, “é bandido, não tem perdão. Perde amigos e a família”.

Uma outra vítima que não quis se identificar repetiu o que ouviu do próprio pai:

- Entre você e ele, eu fico com ele.

Nas cerimônias, os pregadores falam de Aldo Bertoni como um apóstolo, o primaz, o salvador. Atrás do salão principal, há uma sala repleta de fotos dele por todos os lados. Em uma cerimônia, uma produtora do Domingo Espetacular chamou a atenção de Bertoni, que conversou com ela duas vezes. Na primeira, ela diz que não consegue engravidar e ouve uma profecia:

- Em três meses engravida!

Dias depois, na fila dos fiéis, ela pede um encontro reservado e é prontamente atendida. Por segurança, ela não apareceu.

Enriquecimento ilícito - Bertoni também é acusado pelos promotores de enriquecimento ilícito. Ele anda cercado de seguranças e tem oito armas registradas em seu nome

Sílvio também acreditava na santidade de Aldo até começar a trabalhar para ele, que visitava as casas de mulheres que seriam suas amantes.

- A partir do momento que eu passei a ser segurança dele, eu falei “você é sujo”. [...] Ele inclusive fazia filmagem para mostrar para os amigos, poxa vida, isso é baixaria.
F
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