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24 de setembro de 2011

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Sobrevivente revela trama Taleban em assassinato de ex-líder afegão


Foto: AP
Presidente Karzai diz que milícia islâmica conseguiu acesso a Rabbani ao sugerir em CD que paz estava a seu alcance
Em sua primeira aparição pública desde que voltou correndo ao Afeganistão na quarta-feira após o assassinato do principal negociador de paz do país, um solene presidente Hamid Karzai disse na quinta-feira que a milícia islâmica do Taleban havia conseguido acesso ao seu alvo ao cortejar líderes com um CD de áudio que sugeria que a paz estava ao seu alcance
 Afegãos carregam caixão de Burhanuddin Rabbani, ex-presidente afegão e chefe do conselho de paz do governo, durante seu enterro em Cabul
A declaração de Karzai e o relato de um ex-membro do Taleban que ajudou a levar o homem-bomba até Burhanuddin Rabbani, o negociador de paz e ex-presidente afegão que comandava o Alto Conselho de Paz (ACP) do país, revelaram uma trama sombria e complexa que se desenrolou ao longo de quatro meses para permitir que o assassino chegasse até seu alvo. Rabbani foi enterrado nesta sexta-feira em Cabul, após um ato público ao qual compareceram milhares de pessoas.
A gravação foi parte do que parece ser um artifício meticulosamente orquestrado pelo Taleban para colocar um assassino em um quarto com Rabbani. Sua morte foi um golpe para o processo de paz e desencadeou mais uma crise no governo Karzai.
O presidente afegão disse que o suicida havia dado a autoridades afegãs um CD no qual um militante elogiava Rabbani como um professor "querido" e "respeitado". "Confundimos isso com uma mensagem de paz", disse Karzai. "Mas fomos enganados."
Karzai falou no ensolarado e majestoso jardim do palácio presidencial afegão, enquanto o serviço nacional de inteligência levava Rahmatullah Wahidyar, o membro de alto escalão do ACP que apresentou o homem-bomba a Rabbani, para uma coletiva no centro de Cabul.
O relato de Wahidyar foi em grande parte articulado com o de Karzai, indicando que ele também tinha sido enganado, e levantou muitas dúvidas sobre por que os membros do ACP estavam tão dispostos a confiar em membros do Taleban que desconheciam.
Wahidyar, um ex-insurgente taleban de meia idade, dono de uma longa barba negra, também ficou ferido no ataque. Vestindo tradicionais calças largas e uma túnica, entrou na sala com a ajuda de agentes de inteligência, debruçado como quem sente dor. A explosão desabilitou seu braço, disse, e o deixou surdo de um ouvido. Ele ocasionalmente inclinava a cabeça para a frente quando repórteres faziam perguntas.
Seu relato deixou claro que os membros do ACP passaram os últimos quatro ou cinco meses totalmente empenhados em fazer contato com membros de alto escalão do Taleban em um esforço para encontrar uma maneira de chegar a um acordo de paz.
Com esse objetivo, eles fizeram contato com Abdul Sattar, a quem Wahidyar descreveu como "um homem honesto entre os taleban". Wahidyar, Rabbani e Massoom Mohammad Stanekzai, que lideram o secretariado do conselho, convidaram Sattar a Cabul e depois pediram que ele entrasse em contato com o Quetta Shura, conselho de liderança do Taleban no Paquistão. Sattar depois retornou com Hamidullah Akhund, um homem de confiança do Taleban, disse Wahidyar.
Foto: AFP Ampliar
O ex-presidente afegão Burhanuddin Rabbani, em foto de janeiro de 2011

Akhund, a quem Wahidyar também chamou de Akhundzada, veio a Cabul duas vezes e se reuniu com Rabbani e Stanekzai. Akhund levou uma mensagem de áudio de Rabbani para o Quetta Shura e estabeleceu uma relação estreita com Wahidyar, de acordo com seu relato.
Referindo-se a Akhund, Wahidyar disse: "Durante quatro meses, tivemos contatos contínuos com essas pessoas por meio de Hamidullah. Meu telefone foi fornecido a ele por meio do secretariado do conselho de paz, e eu também tenho seu número, e nós estávamos em contato e ele nos relatava o que fazia e com quem falava.”
Então, há uma semana, Akhund ligou e disse que o Quetta Shura estava pronto para as negociações com o governo afegão. Na época, Rabbani estava viajando pelo Irã e os Estados Árabes do Golfo em parte para providenciar a criação de um gabinete para o Taleban no Catar, como forma de promover as negociações de paz, disse Wahidyar. Akhund disse que não seria capaz de levar a mensagem pessoalmente a Rabbani, mas que uma pessoa de confiança poderia fazê-lo e ela traria mensagens e documentos.
"Quando contei isso ao Sr. Stanekzai, ele ficou muito feliz", disse Wahidyar, e instruiu sua equipe a receber o hóspede quando ele chegasse e a tratá-lo de maneira "honrosa e respeitosa e trazê-lo para Cabul".
Poucos dias depois, Wahidyar recebeu um telefonema de um homem em Kandahar que disse ter sido enviado por Akhund. Wahidyar foi até lá, usando veículos emprestados por Stanekzai, que estava em seu caminho de volta de uma rápida viagem ao Paquistão.
O homem enviado pelo Quetta Shura foi alojado em uma pousada mantida pelo conselho de paz em Cabul e os funcionários da pousada foram advertidos para não deixá-lo sair dali. O convidado, cujo nome era Mullah Esmatullah, trouxe com ele duas gravações de áudio: a primeira era para Stanekzai e a segunda para Rabbani. A primeira gravação incluía um aviso de que apenas Rabbani deveria ouvir a mensagem dirigida a ele.
Karzai, que também ouviu o clipe de áudio enviado para Stanekzai, disse que se tratava de uma mensagem "incrível". Ele ouviu a mensagem pouco antes de partir em sua viagem à Assembleia Geral da ONU – a viagem foi interrompida depois do assassinato de Rabbani.
"Havia muitas mensagens boas naquele CD", disse Karzai, acrescentando que um vice de Rabbani também ouviu as gravações com entusiasmo.
Wahidyar disse que havia algumas "coisas motivadoras" na mensagem. O Taleban repetiu que voltará para o Afeganistão depois que as tropas estrangeiras partirem. Eles também expressaram preocupação de que "há muito adultério no Afeganistão e pediu que o governo faça algo sobre isso, e algumas outras coisas das quais não me lembro", disse.
Na segunda-feira, um dia antes do assassinato, Wahidyar foi verificar como estava o mensageiro Taleban, Esmatullah. Ele não estava na pousada. Wahidyar disse que ligou para ele e que Esmatullah disse ter “ficado entediado e saído para fazer orações em uma mesquita próxima".
No dia seguinte, perto de anoitecer, Wahidyar pegou Esmatullah em seu carro e o levou para a casa de Rabbani. Eles entraram na casa e o secretário de Rabbani recebeu Wahidyar calorosamente e pediu permissão para que guardas revistassem os dois.
"Disse ‘claro’", afirmou Wahidyar, mas parece que os guardas não procuraram bem, porque momentos depois a bomba explodiu, logo após os dois cumprimentarem Rabbani, que estava de pé ao lado de Stanekzai em uma pequena sala.
Esmatullah se aproximou de Rabbani e "o abraçou, e nesse momento eu ouvi uma explosão", disse Wahidyar. "Depois disso fiquei inconsciente. Não sei o que aconteceu.” Quando voltou a si, ele viu “o cara deitado aos meus pés, e vi seu corpo sem sua cabeça".
Esmatullah havia escondido os explosivos em seu turbante. No final dessa declaração, Wahidyar se comprometeu a continuar a tentar trazer a paz, e Karzai terminou sua coletiva dizendo que "a paz é algo que todos no Afeganistão querem”. O embaixador dos EUA Ryan C. Crocker fez uma declaração de apoio ao conselho de paz na quinta-feira, mas reconheceu o dano causado pelo assassinato de Rabbani.
Ele disse que o ataque "levanta dúvidas muito sérias sobre o Taleban e aqueles que apoiam o grupo estarem realmente interessados na reconciliação".
País abalado
A execução de Rabbani ameaça desfazer as já frágeis alianças entre os grupos étnicos do Afeganistão, deixando um sentimento de desolação sobre o futuro do país. Ninguém perdeu mais politicamente com a morte de Rabbani do que Karzai, segundo diversos analistas.
Foto: AP
Homens seguram cartaz com a foto do ex-presidente afegão Burhanuddin Rabbani, durante uma marcha em Cabul (21/9)
Karzai é um pashtun de Kandahar, região sul do país, enquanto Rabbani era um ex-presidente e ex-líder da Aliança do Norte, a força anti-Taleban composta principalmente por tajiques.
Apesar dos esforços de Rabbani em favor da paz terem se mostrado apenas uma promessa limitada, o seu apoio a Karzai dava força ao presidente, que estava sob pressão constante de ex-membros da Aliança do Norte para não sucumbir ao Taleban, grupo formado na maioria por pashtuns do sul.
Ao ficar ombro a ombro com Karzai, Rabbani conseguiu rejeitar a crítica dos nortistas e emprestou uma pátina de credibilidade aos esforços muitas vezes ingênuos de Karzai em tentar negociar com o Taleban.
Karzai tem falado frequentemente do Taleban como “irmãos” alienados, deixando de lado as mortes de civis e a sequência de assassinatos perpretados pelo grupo. "O presidente Rabbani trouxe uma dimensão notável de estabilidade e é por isso que ele foi muito importante e seu assassinato deixou um vácuo no norte do país", disse Haroun Mir, analista político em Cabul.
Os detentores de poder do norte atuam dentro e fora do governo, e entre eles está o governador da província de Balkh, Atta Mohammed Noor, o ministro do interior, Bismullah Khan, bem como ex-candidato presidencial Abdullah Abdullah.
O próprio processo de paz perde com a morte de Rabbani. Embora ninguém tenha declarado o fim das negociações, sem Rabbani o processo já não poderá seguir em frente como era. Primeiro um novo presidente deve ser encontrado para o conselho de paz, e precisa ser alguém que tenha a mesma estatura nacional que Rabbani e possa comandar o mesmo respeito de uma variedade de grupos.


©Copyright Blog do Tony Medeiros com  New York Times
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